terça-feira, 13 de dezembro de 2011

'Fiz um monte de loucurinha até achar minha onda', diz Ana Carolina

    Ela lança o CD-DVD 'Ensaio das cores', que mostra sua paixão pela pintura.
    Veja obras da cantora, que diz pintar 'das oito da noite até cinco da manhã'.



Quando Ana Carolina não está nos palcos, na turnê que deu origem ao disco "Ensaio das cores", a chance é grande de ela estar pintando com um de seus 150 pincéis. Afinal, ela diz ficar de "de oito da noite até cinco da manhã" criando seus quadros.
Em entrevista ao G1, a cantora fala de seu novo CD-DVD ao vivo, mas se empolga mais ao detalhar a paixão por cores e  telas. Ana Carolina descreve a força das novelas, elogia sua banda só de mulheres e conta que a amiga Cássia Eller (1962-2001) costumava andar pelada pela casa.

G1 - Quando você começou a pintar e quando sentiu a necessidade de juntar pintura e música em um só projeto?
Ana Carolina - Eu comecei a pintar em 2000 e poucos. Quando vi tinha várias telas em casa, meus amigos pediam e eu não tinha vontade de fazer nada com aquilo. Não conseguia descobrir o momento que a tela acabava, continuava pintando eternamente. Chegou uma hora que pensei: só se for para fazer um projeto, ou fazer leilão para uma ONG. Pensei na associação dos diabéticos, porque sou diabética desde os 16 anos. Depois, pensei no show com músicas sobre o assunto ("Azul" do Djavan; "Rai das cores" do Caetano). Consegui o link que precisava entre as telas e as músicas.
No dia da vernissage, parecia uma noiva no dia do casamento. Estava 'nervosassa', pensando: 'o que eu vou falar?'. Foi doido. Todo mundo fica olhando, avaliando, discutindo sobre aquilo. Eu fiz um monte de loucurinha até achar a minha onda. Tinha uma coisa meio Pollack de jogar a tinta na tela."
Ana Carolina
G1 - Sua primeira exposição individual começou neste mês na galeria Romero Britto. Como foi escolher as telas, como é seu trabalho como pintora?
Ana Carolina - Eu fico de oito da noite até cinco da manhã. Compro a lona, lavo a lona. Eu fico horas preparando as misturas, tenho 150 pincéis. No dia da vernissage, eu parecia uma noiva no dia do casamento. Estava "nervosassa", pensando: "o que eu vou falar?". Foi muito doido. Todo mundo fica olhando, avaliando, discutindo sobre aquilo. Eu fiz um monte de loucurinha até achar a minha onda. Tinha uma coisa meio [Jackson] Pollock de jogar a tinta na tela.

G1 - É difícil o desapego com a tela?
Ana Carolina - Não tanto, porque eu sou esperta. Acabei de pintar um negócio. Com custo, decido que aquilo terminou. Chamo um fotógrafo e ele tira uma foto bacanuda em alta [resolução] para mim. A foto é tirada em estúdio. Me falaram que isso é meio neurótico. Eu tenho que entregar a tela para a pessoa que comprou e ver a cara dela. O dono tem que pegar um avião ou eu a entrego quando faço um show perto de quem comprou. Ainda não sou dessas artistas plásticas que desapegam. Já vendi 18 telas assim e tenho outras 48 prontas.

G1 - Por que decidiu montar uma banda só de mulheres para este show? Qual a diferença em ser acompanhada só por mulheres?
Ana Carolina - Eu fiquei parecendo a vocalista de uma banda, senti mais músico do que nunca. Com elas, eu me sinto mais músico. Com a banda masculina, eu era mais a cantora. A intensidade com a qual se toca é diferente quando há quatro mulheres no palco. Quando é para ser mais delicado, é mais delicado, quando é pra ser pesado é um arroubo de peso, é uma coisa de útero. A Delia Fischer me deu quatro meses de aula de piano um tempo atrás. Eu acho que ela é um monstro. A Lan Lan não poderia ficar de fora. Quando se pensa em baterista e percussionista mulher, penso nela. Ficou uma cara de banda. Realizei essa fantasia. O projeto pode voltar daqui a dois ou três anos, com essa formação.
Eu fiquei parecendo a vocalista de uma banda, senti mais músico do que nunca. Com elas eu me sinto mais músico. Com a banda masculina, eu era a cantora. A intensidade com a qual se toca é diferente quando há quatro mulheres. Quando para ser mais delicado é mais delicado, quando é pra ser pesado é uma arroubo de peso, é uma coisa de útero"
Ana Carolina
G1 - Como foi a composição de "Pra tomar três' com o Edu Krieger? E a escolha das outras canções?
Ana Carolina - Eu estava com essa sacada há um tempão na cabeça, querendo fazer um lance. Eu liguei para ele e a gente nem se conhecia. Quando aparece um compositor legal, é difícil esperar a oportunidade de falar com a pessoa. Sou ansiosa, consegui o celular e liguei. Eu mostrei para ele o verso e logo depois ele me mandou a letra toda. Fizemos tudo mais ou menos juntos. Foi um prazer ter trabalhado com ele. "Stereo" é uma música que fiz há um tempão para a Preta Gil. Se a música estava tocando bem, também queria me dar bem. "Você não sabe" tinha um cheirinho de "Garganta". É uma letra revoltadinha, meio "eu sou mais eu".

G1 - Você já vendeu cinco milhões de CDs e DVDs. Tem interesse em saber dos números de vendas, de execuções em rádios? É algo que acompanha?
Ana Carolina - Eu tenho interesse quando alguém chega para mim e fala: "vendeu tanto". Eu digo: "que legal". Tem uma coisa que acontece com 12 anos de carreira... Você já tem um público que compra o disco sem precisar ouvir. Eu sou fã do Lou Reed, eu vou comprar o CD e f..., sabe? Se tem música ou não, quero ouvir. Isso acontece de maneira natural. Hoje eu sei que no mínimo 50 mil cópias eu devo vender.

G1 - 'Problemas' é tocada em 'Fina estampa' e está estourada nas rádios, muito por isso. É mais fácil emplacar uma música com ela na trilha de uma novela?
Ana Carolina -
É inegável. No momento que toca na novela, tem 50 milhões de pessoas ouvindo. Não tem rádio que consiga isso. Você coloca a cara a tapa à beça. Eu não acredito que a dramaturgia faça o cara gostar da música. O cara pode ouvir e falar: "odeio essa música". Você meio que invade a casa do cara. Eu acho que o negócio é bem feito. Eu nunca vi uma música minha que não tivesse a ver com a dramaturgia. "Garganta" era uma música super dedo em riste e era da personagem da Débora Bloch em "Andando nas nuvens". É bem escolhido, não são músicas que não têm nada a ver. "Problemas" é trilha dos personagens de Dan Stulbach e Julia Lemmertz; e eles vivem brigando.

G1 - Você ficou um tempo na casa da Cássia Eller quando foi para o Rio e no fim do mês completam-se 10 anos da morte dela. Que memórias você tem da Cássia daqueles tempo de convivência intensa?
Ana Carolina -
Na verdade eu só ficava na casa dela no Rio porque ela era muito amiga de uma amiga minha. Por isso, não tinha grana para ficar em hotel, não tinha grana para pagar o roadie. Ela era gente boa pra c... e me acolhia. Ela chegou a pagar um roadie para tocar comigo e foi a um show. Foi uma relação curta, um tempinho, mas foi muito legal. Ela sempre falou do meu trabalho com boa vontade e generosidade. Lembro de uma vez de manhã, a gente dormia na sala, toca a buzina e ela vem pelada pelo corredor afora e vai na janela e grita: "peraí, já tô descendo". Foi engraçado. [risos]

Fonte:G1.com